Owen estava a ganhar tempo. Pensou em Elsie, naquela noite na mata do pai dela, no seu corpo sedoso a entregar-se, animado pelo desejo sexual, nas coisas fugidias que piavam e restolhavam em volta deles. Os confins tinham os seus encantos.
- a Phyllis e eu - admitiu Owen - começámos a pensar em ir para os subúrbios. Para Westchester ou Bova Jérsia, a norte de Paterson.
- Meu Deus, não te metas nisso! É exactamente a mesma porcaria, mas sem os táxis amarelos e sem o jazz no Village - é a mesma barafunda da cidade, mas com um quintalzinho pretensioso nas traseiras e a obrigatoriedade de fazer uma hora de comboio duas vezes por dia. Se fizeres as contas, fica tão como isto aqui. Mais caro, se somares o custo espiritual: voçês vão ser obrigados a manter as aparências, a serem bons vizinhos. Por amor de Deus... viver em subúrbios de casas em banda todas iguais - poupa-me. Poupa-nos a todos. (Pecados e Seduções, de John Updike, Civilização Editora, 2008)
Não sei se Updike foi um escritor brilhante. Não foi galardoado com o Nobel, o que, já sabemos, não é condição obrigatória de reconhecimento. Para mim, que só li Pecados e Seduções e Coelho em Paz, o autor oferece-me das melhores narrativas e paisagens sociais dos EUA. É como ver um filme, mas muito melhor. Esta definição sobre a condição suburbana é por demais relevante. Sobretudo porque, infelizmente, esta é uma condição em expansão, também em torno dos principais centros urbanos portugueses, com claros prejuízos para a cidade. Também eu já fui de táxi amarelo para o Village, numa das cidades que melhor definem as cidades. E gostei.